Resenha: O Nome do Vento


Vilões unidimensionais, batalhas para salvar o mundo, heróis predestinados, esqueça tudo isto. O Nome do Vento, primeiro volume da série A Crônica do Matador do Rei e romance de estréia de Patrick Rothfuss, não se agarra a esses clichês, e conta uma história original e brilhantemente escrita.

A trama é construída como uma biografia: Kvothe, o personagem principal e uma lenda de seu próprio tempo, que se disfarça como um simples estalajadeiro, relata sua vida de aventuras a um cronista que descobre sua identidade. Assim, somos apresentados a diversos momentos da vida de Kvothe, desde quando era apenas uma criança, viajando com a trupe itinerante de seus pais, as dificuldades no início da adolescência, o ingresso na Universidade de magia, e os primeiros passos da caminhada que o tornou uma lenda deste universo.

A narrativa se divide em duas partes: presente e passado. O presente é narrado em terceira pessoa: Kvothe possui uma estalagem e vive uma vida pacata escondendo sua identidade do mundo, até ser descoberto pelo cronista. Porém, a maior da narrativa se dedica à segunda parte, que apesar de também ocorrer no presente, trata dos acontecimentos passados da vida de Kvothe. Patrick Rothfuss constrói um persongaem absolutamente memorável. Kvothe não é um héroi típico dos livros de fantasia, o personagem tem tantas camadas que poderia facilmente ser comparado a grandes figuras da literatura fantástica, como Tyrion Lannister e Smeagol, tanto em complexidade, quanto em carisma. Kvothe é bondoso, bem humorado, possui uma inteligência muito acima da média, é um músico extremamente talentoso, mas também é orgulhoso, dissimulado, manipulador em diversas ocasiões, e como ele mesmo diz: "as melhores mentiras a meu respeito são as que eu contei". Isto torna o pesonagem crível e único, as pessoas já se cansaram de heróis unidimensionais que não têm nada a oferecer além de sua bondade infinita. Kvothe não é predestinado, não faz parte de uma profecia para salvar o mundo, e isto é o que o torna brilhante.

O mundo criado por Rothfuss também não fica para trás. Por meio dos olhos de Kvothe, somos apresentados a uma mitologia sólida e instigante, e o autor faz isso de uma maneira sutil e natural, sem excesso de exposição, o que é mais complexo do que pode parecer trabalhando com uma narrativa em primeira pessoa. Seria muito fácil apresentar o mundo através de diálogos expositivos e óbvios, mas não, à medida que a leitura se desenvolve, vamos aprendendo mais e mais sobre este universo, e, sem nem perceber, já estamos entendendo perfeitamente o sistema monetário, o modo de pensar das pessoas deste mundo, a magia praticada na Universidade e os demais aspectos deste mundo.

O ritmo da narrativa pode ser considerado um problema por alguns. Ao longo das 648 páginas do primeiro volume, a história se desenvolve de maneira lenta e gradual. Rothfuss não tem nenhuma pressa em chegar nos acontecimentos mais empolgantes, e gasta páginas e mais páginas dedicadas a criar o universo e torná-lo complexo e supostamente real, apresentando personagens secundários e principalmente desenvolvendo as relações de Kvothe com estes personagens.Toda história precisa de personagens secundários, e neste ponto, apesar de O Nome do Vento não ser brilhante como as Crônicas de Gelo e Fogo por exemplo, é eficiente. Salvo algumas excessões, como Denna, Ellodin e Bast, os personagens secundários servem basicamente para apoiar e desenvolver a história do próprio Kvothe, não possuindo arcos próprios ou muito desenvolvimento, mas isto não deve ser visto como um defeito, e sim como uma escolha narrativa do autor.


Para concluir, O Nome do Vento é uma das melhores fantasias dos últimos tempos, contando com um mundo complexo e bem construído, um personagem central que figura entre os mais interessantes do gênero e um narrativa envolvente e fluída, apesar de lenta em alguns momentos. Recentemente, o autor confirmou através de seu blog pessoal que a obra ganhará filme, série de TV e jogo de videogame. A Crônica do Matador do Rei é uma obra obrigatória para qualquer fã de literatura fantástica.

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